sexta-feira, 13 de abril de 2012

Biografia - Parte V

                                                          Surgem os Fimes Sonoros
           Algum tempo depois, um amigo contou a Charles que havia assistido a experiência de sincronização do som nos filmes, considerando que aquilo seria, em breve, a revolução da indústria cinematográfica.

        Charles só voltou a pensar no assunto meses depois, quando a Warner Brothers produziu seu primeiro filme falado. Ao assitir ao filme, Charles percebeu a má qualidade do som. Nada se sabia sobre o controle sonoro, naquela época. Mas o filme deixou Charles com a certeza de que os dias do cinema sonoro estavam contados. Mas, um mês depois, a MGM produziu Melodia da Broadway, um musical de longa metragem, muito simples e enfadonho, mas que teve enorme sucesso de bilheteria. De um dia para outro, todos os cinemas começaram a equipar-se para exibir filmes sonoros. Tinha início o crepúsculo dos filmes silenciosos. Contudo, Charles decidiu que continaria a fazê-los. Afinal, era um ator pantomimas e "nesta arte, único e, sem falsa modéstia, um mestre", comentou ele.


  Assim, deu prosseguimento ao filme que estava produzindo - City Lights Luzes da Cidade), na certeza de que sempre havia lugar para todos os gêneros de entretenimento.
Com os produtores voltados para o sucesso dos filmes falados, Charles se sentia colocado de lado. Com a chegada dos filmes sonoros, os atores haviam esquecido a arte de fazer mímicas e foi muito difícil ele encontrar uma atriz que conseguisse dar à  fisionomia, a expressão de uma cega, que seria a vendedora de flores protagonista do filme. 
Charles entrevistou muitas candidatas , mas a maioria olhava apara cima, exibindo  o branco da córnea , o que, em sua opinião causava uma imprensão desoladora.
   Caminhando pela praia de Santa Monica, deparou-se com um grupo de atores que filmava ali.Charles viu belas moças.Uma delas acenou para ele e perguntou-lhe quando iria trabalhar com ele. Era Virginia Cherril a quem Charles já conhecia. Seria ela a atriz escolhida.


                                                           
                                                                         Virginia Cherril

     Charles ficou mais de um ano produzindo Luzes da Cidade. Sua mania de perfeição fazia com que as cenas fossem filmadas e refilmadas até que saíssem como ele desejava. Assim, na parte em que Carlitos compra uma flor para colocar em sua lapela e a deixa cair no chão, ao esbarrar na florista, e ele percebe que ela é cega, a cena, que dura apenas 70 segundos, foi filmada e refilmada por 5 dias!

Stills: City Lights
Charles e Virginia em Luzes da Cidade

Assim que terminou o filme, Charles começou a busca um fundo musical para inserir ali. Uma das vantagens dos fimes sonoros era permitir que se escolhesse a música e Charles compôs a que usou em seu filme. Procurou uma música delicada e romântica, em contraste com seu tipo vagabundo, pois a música suave dava a seus filmes um toque de emoção. Quando concluiu a sincronização do som, organizou uma pré-estréia no cinema.
        Foi um a terrivel experiência. A platéia estava meio vazia. O público esperava um drama e não uma comédia e, só depois da metade do filme é que se refaz da decepção. Mas mesmo assim, muitas pessoas se levantaram e saíram antes do filme terminar. Quando Charles deixou a sala, estava certo de que havia jogado fora quase dois anos de trabalho e 2 milhões de dólares. De repente, se lembrou de que o filme ainda não hava sido vendido. Naquela altura, todos os cinemas estavam com sua programação contratada e ele deveria esperar pela sua vez. O único espaço disponível era o Teatro George N. Cohan com 1150 lugares. Não era uma verdadeira sala de cinema, mas Charles arriscou 7 000 dólares semanais pelo aluguel, com garantia de 8 semanas de locação, cabendo-lhe ainda fornecer gerente, bilheteiros, indicadores de poltronas, operadores e auxiliares.
       No dia de sua estréia em Nova York, em 1931, Luzes da Cidade recebeu, em sua apresentação, a família de Einstein. Charles percebeu que, no decorrer da última cena, Eisntein enxugou os olhos. O filme foi um sucesso e Charles partiu para Nova York, sem esperar as críticas da imprensa. Lá, descobriu que toda a propaganda do filme se resumia a um pequeno anúncio: " NOSSO VELHO AMGO CHARLIE ESTÁ DE VOLTA". Charles, então, colocou nos jornais, diariamente, anúncios de meia página com letras enormes: CHARLES CHAPLIN - NO TEATRO COHAN- A 1 DÓLAR".
        Gastou mais de 30 000 dólares em publicidade e outros 30 000 pelo aluguel de um letreiro luminoso. O filme lhe rendeu 80 000 dólares por semana. Ficando em cartaz por 12 semanas, teve uma lucro acima de 400 milhões de dólares, enquanto no Teatro Paramount, defronte ao de Charles, a fita falada e apresentada por Maurice Chevalier, rendeu apenas 38 milhões de dólares. Luzes da Cidade muitas vezes é classificada como a maior obra de Chaplin. O crítico americano James Agee afirmou que a cena final foi a maior peça de representação e o momento mais elevado de quaisquer outros filmes já feitos.

Stills: City Lights
Descendo as escadas do cais em Luzes da Cidade
Charlie and Virginia Cherrill in a promo still for  City Lights
A florista e o Vagabundo

Cena de Luzes da Cidade
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                                                        Londres Novamente 

           Quando o filme estava para ser lançado em Londres, Charles foi para lá. Hospedou-se no Hotel Carlton, de onde, da janela, podia ver os cartazes, nas bancas de jornais exibindo: " CHARLES É AINDA O ÍDOLO DO PÚBLICO".
       Aquela viagem à terra natal foi também uma oportunidade de reviver o passado.Ele encontrou tempo e arranjou a coragem de visitar Hanwell indo à Escola de Crianças Órfãs e Indigentes,para  onde fora enviado com pouco mais de 6 anos e onde viveu, junto com Sydney, de junho de 1896 a janeiro de 1898.
            Segundo informações do Daily News ,ele entrou  no refeitório do asilo, onde havia cerca de 400 meninos e meninas que o aplaudiram. Usando o seu famoso truque, ele fez seu chapéu saltar magicamente no ar.Balançou sua bengala e caminhou com seu jeito inimitável. Era Carlitos quem estava ali! As crianças gritavam de alegria. E Charles estava amando tudo aquilo tanto quanto elas!     
       Chaplin falaria mais tarde a respeito dos sentimentos que ele gravou na memória sobre aquela visita." Eu não perderia aquilo por nada neste mundo. Deus, você se sente como um morto retornando à terra! Sentir o cheiro de sala de jantar e lembrar que foi onde você se sentou;  que aquele rabisco no pilar da coluna foi feito por você! É como se não fosse você, mas você em outra vida... como algo que você foi e agora não é mais. Como uma cobra que perde sua pele de quando em quando. E a pele que você perdeu  ainda guarda seu odor nela.Oh, foi maravilhoso! Quando eu cheguei lá, eu sabia que era aquilo que eu estava querendo havia anos. Tudo me levou àquilo e eu estava pronto para tal.Meu regresso a Londres em 1921 e meu retorno em 1931, foram suficientemente maravilhosos, mas  nada poderia ser comparado àquela entrada em Hanwell"...

          Placa em homenagem a Chaplin, no corredor da entrada
 do asilo de Hanwell

              Charles havia tomado um táxi para circular pela ruas onde vivera sua infância e juventude. "Estar entre os edifícios, conectado com tudo - com a miséria e algo que não era miséria... Veja você, eu realmente nunca acreditei que tudo estaria ali. Nada na América dura tanto tempo assim. E quando chegamos perto do local... todas as ruas  e lojas  e casas...
           E eu imaginava que elas haviam desaparecido e não sei o que eu teria feio se isto tivesse acontecido...Eu acho que teria voltado para  Hollywood. Porque eu fui ali para ver aquilo...eu nunca tive um momento como aquele na minha vida. Eu estava quase fisicamente doente com tanta emoção".
           A visita  à Europa  se transformou numa turnê mundial que se estendeu por longos meses, com Chaplin rsendo ecebido e aclamado em toda parte como uma celebridade social. Em Londres, encontrou-se com Bernard Shaw e foi apresentado a Winston Churchill e, em seguida, a Mahatma Ghandi.

Chaplin_and_bernard_shaw_1931_big
Chaplin conversando com Bernard Shaw
 (Estréia de Luzes da Cidade em Londres)

Sir Winston Churchil e Charles Chaplin

Charles e Ghandi

    Na estréia de Luzes da Cidade, chovia torrencialmente em Londres, mas o público compareceu fielmente e o filme também foi um enorme sucesso.
     "Não devemos esperar que nos embale por muito tempo a adulação do público", disse Charles, ao perceber que, apesar do sucesso de Carlitos nas telas, o público esfriara com relação a ele, Charles Chaplin. O primeiro sinal veio da imprensa. Charles estava axausto e precisando descansar. Quando se encontrava em Juan-les Pins, foi convidado para um espetáculo beneficente, patrocinado pela realeza, no Palladium de Londres. Em vez de comparecer, enviou um cheque de 200 libras, o que provocou um escarcéu.Consideravam que ele havia ofendido o rei e menosprezado a Ordenação Real. Charles não achou que o convite fosse um édito do Rei e, além disso, não estava preparado para se apresentar sob convocação em cima da hora. Algumas semanas mais tarde, quando se encontrava na quadra de tênis esperando um parceiro, um rapaz, dizendo-se amigo de um amigo, se apresentou a ele. Conversaram animadamente. Charles apreciava as pessoas que sabiam ouvir e aquele simpático rapaz escutou atentamente as narrativas dele em vários assuntos. Quando fez um comentário pessimista sobre a possibilidade da Europa estar a caminho de uma próxima guerra, o rapaz lhe disse:" Bem, se houver uma outra, não me pegam"! Charles comentou:" Não o censuro por isso. Não tenho respeito pelos que nos metem em complicações: detesto que me digam a quem devo matar e por que tenho que morrer ... e tudo em nome do patriotismo".
         Ao se despedirem, combinaram um jantar para o dia seguinte, mas o rapaz não apareceu mais. Na verdade, aquele rapaz era um repórter.No dia seguinte, a primeira página da imprensa dizia: " CHARLIE CHAPLIN NÃO É PATRIOTA"!
     Charles concordou  com aquela afirmção, mas ficou aborrecido por ver suas opiniões pessoais divulgadas nos jornais." De fato, não sou patriota - diria ele- e não somente por motivos morais ou intelectuais,mas também porque é sentimento que não possuo.Como tolerar patriotismo quando em seu nome foram assassinados 6 milhões de judeus?... Não posso vociferar por motivoss do orgulho nacional... Para mim, patriotismo é, quando muito, nutrido por hábitos locais, corridas de cavalos, caçadas, pudim de Yorkshire, hamburgers americanos e coca-cola; mas hoje em dia, essas coisas típicas podem ser encontradas em qualquer lugar do mundo. Naturalmente, se o país em que eu vivesse fosse invadido, creio que, como a maioria de nós,eu seria capaz de um ato de supremo sacrifício. Contudo, sou inapto a um fervente amor de pátria, pois bastaria que ela se tornasse nazista para que eu a abandonasse sem pesar... Não quero ser um mártir do nacionalismo, nem morrer por um presidente, um primeiro-ministro, um ditador"...
       Apesar de Luzes da Cidade ter sido um grande sucesso, com renda superior a de qualquer filme sonoro da mesma ocasião, Charles decidiu fazer outra fita muda, mesmo com receio de estar desatualizado. Algumas vezes pensava em fazer um filme sonoro. Mas à idéia o fazia crer que não conseguiria realizar algum trabalho à altura de seus filmes silenciosos. E teria que abandonar a figura de seu Vagabundo. Sugeriram que o fizesse falar, mas Charles não admitia essa idéia, pois a primeira palavra que ele dissesse, o transformaria em outra pessoa.
           De volta aos Estados Unidos, à sua casa de Beverly Hills, de onde se ausentara por 8 meses, Charles se sentia sozinho, confuso, inquieto e sem planos de trabalho. Mary Pickgord e DouglasFairbanks  haviam se divorciado e, assim, seu mundo afetivo estava ruindo.
           Caminhando pelas ruas, começou a pensar se não seria melhor deixar de vez o cinema, vender tudo e ir para a China. Nada o incentivava a ficar em Hollywood que , naquela época, passava por grandes transformações. Os astros de cinema mudo haviam desaparecido. Com o sucesso dos filmes falados, a terra do cinema perdera seu encanto e se tornara uma indústria fria e séria.Enquanto encenou o Vagabundo, Chaplin resistiu contra o uso de som em seus filmes. O Vagabundo tinha um público universal: se ele agora começasse a falar, essa audiência iria encolher para os países de língua inglesa. Além disso, todo mundo tinha sua própria idéia de como seria a voz do Vagabundo.No entanto Chaplin percebia que o seu querido personagem estava com seus dias contados e necessitava de diálogos.
         Por quase um mês ele vagou, solitário, pelas ruas de Hollywood, até que foi convidado por Joe Schenck, então presidente da United Artist, para passar um fim de semana em seu iate.Joe costumava levar vários convidados para este programa e Charles achou que poderia encontrar uma bela moça ali. E foi assim que conheceu Paulette Goddard.

Paulette Goddard
          Ela desejava investir parte do pensão que recebia do ex-marido na indústria cinematográfica.Mas, aconselhada por Chaplin a não investir em nada que não fosse seus próprios filmes, acabou desistindo da idéia. Começava ali uma a mizade. Ambos estavam solitários. Ela havia acabado de chegar a Hollywood. Não conhecia ninguém . Charles e Paulette costumavam dar longos passeios de automóvel pelo litoral da Califórnia. Não sabiam em que gastar o tempo. Gostavam de admirar as embarcações no porto de San Pedro, o que Charles considerava uma aventura excitante. Havia tempo que ele sonhava em comprar uma grande lancha a motor com 3 cabines e uma copa cozinha, encorajado por Paulette que lhe disse que se ele tivesse um barquinho como aquele, poderiam passar domingos bem agradáveis e até mesmo viajar a Catalina. Juntos, costumavam entrar na lancha, com a permissão do propietário, sempre que íam ao porto. Um dia, sem que ela soubesse, comprou a lancha e preparou-a para uma excursão a catalina, levando a bordo seu próprio cozinheiro e Andy Anderson que fizera o papel de policial nas fitas de Keystone e possuía habilitação de piloto.
        No domingo seguinte,Charles levou Paulette até o porto, mas desta vez ela se recusou a entrar no iate. Disse-lhe que fosse sozinho, pois se cansara de estar sempre entrando ali para olhar o que já conheciam tão bem. Mas acabou se deixando levar quando ele disse que seria a última visita para se decidir se deveria realmente fechar negócio com o proprietário. Quando Paulette entrou na lancha, a mesa da cabine estava coberta com toalha azul e rosa e , sobre ela, louça das mesmas cores. Da cozinha vinha um cheiro de comida. Paulette olhou para a copa e reconheceu o cozinheiro. O casal ficou a bordo da lancha por 9 dias.
        Casaram-se secretamente em 1936, no México.

Charlie Chaplin & Paulette Goddard

via http://www.liveauctioneers.com
Charles e Paulllete a bordo do Panacea, seu iate

     De repente, o desejo da fazer um novo filme. Aconteceu durante uma conversa com uma jornalista que o entrevistara, mencionou que visitaria Detroit, em Michigan. A jovem explicou-lhe como era o sistema de trabalho na linha de montagem de automóveis nas grandes fábricas dali, onde usavam jovens vindos do campo para trabalhar na grande indústria e de como estes se tornavam nervosos e estressados.
 Nascia ali a criação de Tempos Modernos.

Charlie in Modern Times
O operário em Tempos Modernos

               Paulette Goddard  interpretou o papel de uma jovem malandrinha,menina de rua, que  contracenava com Chaplin, o Vagabundo que tenta sobreviver no mundo moderno e industrializado.
        Tempos Modernos ( realizado de 1933 a 1936), ao mesmo tempo, comédia, drama e romance, é considerado uma forte crítica ao capitalismo, militarismo, liberalismo, conservadorismo, stalinismo, fascismo, nazismo e imperialis mo, além de ser uma crítica aos maus tratos que os empregados passaram a receber depois da Revolução Industrial. A partir deste filme, surgem as primeiras críticas de que o comediante estava vestindo o manto de filósofo.
         Foi, sem dúvida, uma hilariante comédia , uma acusação das desumanas condições dos empregados da linha de montagem de automóveis, tendo Charles interpretado um deles, levando seu vagabundo à loucura.

Stills: Modern Times
Na fábrica, em Tempos Modernos

        A seqüência de insanidade mental, artisticamente brilhante neste filme, foi também uma reprise dissimulada da experiência trágica da sua própria mãe ao se tornar psicótica enquanto suas forças eram emocional e fisicamente drenadas.

Paullete e Charles em Tempos Modernos

          Neste filme a voz de Chaplin é ouvida pela primeira vez na tela quando ele canta e dança num bar.

jsweetness17:

<3
Charles canta em Tempos Modernos

       Na época em que  os filmes sonoros estavam quase universalmente estabelecidos, Chaplin surpreendeu o público com esse filme, dando-lhes um novo presente: ele , sempre versátil atuando como produtor, diretor, escritor, diretor e estrela de seus filmes, agora se mostrava ,também, um compositor inspirado, cujo resultado foi a  melodia Smile  que entrou para sempre, para o repertório popular de todo o mundo.

 Carlitos pede a Gamine (Paullete) que sorria ( smile! ) na cena final
de Tempos Modernos
                 O filme recebeu críticas de que tinha tendências comunistas. Lançado em Nova York e Los Angeles, em sua primeira semana em cartaz bateu todos os recordes de bilheteria.
      Mas Charles havia decidido ficar longe de tudo o que se referia a Tempos Modernos e assim, partiu com Paulette e a mãe dela para o Havaí. Em Honolulu, viu grandes cartazes anunciando o filme. Viu também a imprensa, a sua espera, pronta para massacrá-lo.

    Voltando a Beverly Hills, Charles se perguntava se deveria insistir em fazer filmes mudos. Não queria dar voz ao seu vagabundo para não se tornar um comediante qualquer. Aos poucos via que estava se afastando de Paulette que fora contratada pela Paramount , sendo cedida a outras companihas quando requisitada. Sem idéias para criar um filme, Charles vaiaja com um amigo para o sul de San Francisco a fim de relaxar e recuperar sua criatividade.
       O cheiro de guerra estava no ar. Charles buscava criar um personagem para Paulette, mas não conseguia ir adiante. Por volta de 1937, um amigo sugeriu que ele fizesse uma história sobre Hitler, tendo como tema um erro de identidade, já que ele tinha o mesmo bigodinho do Vagabundo. Charles não deu muita importância à sugestão. Tempos depois teve a inspiração de fazer O Grande Ditador. Quando a produção estava pela metade, disseram-lhe que teria dificuldades com a censura do filme. Mas Charles achava que Hitler merecia ser escarnecido.
          Desde o advento de Adolf Hitler, jornalistas e caricaturistas de todo o mundo se impressionaram com as estranhas coincidências entre Chaplin - o homem mais amado do mundo - e Hitler, o mais odiado. Ambos nasceram , com diferença de dias, em 1889. Tinham semelhanças físicas e haviam adotado o mesmo estilo de bigode, embora o de Hitler fosse real, enquanto o de Chaplin era postiço. Era inevitável que Chaplin finalmente caricaturasse Hitler Mais tarde ele disse que ele tinha conhecido a realidade plena do nazismo e a perseguição dos judeus ele poderia não ter feito uma comédia dele; no entanto, comédia provou ser uma arma eficaz. O filme foi amado na Grã-Bretanha, que naquele tempo estava sofrendo a investida completa da Blitz. Nos Estados Unidos, onde ainda grassava o isolacionismo e simpatia pela Alemanha, o filme recebeu uma boa dose de desaprovação.
Carlitos, o barbeiro, capturado em
 O Grande Ditador

No papel de Hynkel,O Grande Ditador,
 sonhando em dançar com o mundo

      O filme exigia montagens complexas. Sua preparação se prolongou por um ano e durante este período, Charles recebia inúmeras cartas anônimas com ameaças de jogar bombinhas mal cheirosas nos cinemas e cortar a tela onde quer que o filme fosse exibido. Charles pensou em avisar a polícia, mas percebeu que isto poderia afastar o público.
       Na verdade O Grande Ditador não era uma comédia sobre a demência homicida dos nazistas, mas uma maneira de ridicuarização da idéia de pureza racial criada por Adolph Hitler. O filme foi lançado em dois cinemas de Nova York onde se manteve por 15 semanas e obteve a maior renda entre todos os filmes de Chaplin.
           As críticas da imprensa divergiam, sobretudo, no que que se referia à fala final. O Daily News dizia que Charles havia apontado para a platéia, o seu dedo comunista. Perguntado porque era tão contra o nazismo, Charles respondeu: "Porque o nazismo é contra o povo"! Em seguida desejaram saber se ele era judeu e ele respondeu que não era preciso ser judeu para ser anti-nazista. "Basta ser uma pessoa humana, decente e normal".
Antes do filme começar a ser feito, Charles e Paulette perceberam que a separação deles era inevitável Contudo, profissionalmente eles ainda estavam unidos. Em O Grande Ditador, ela interpretou a esposa de Chaplin. A seu personagem foi dado o nome de Hannah, uma homenagem de Chaplin à sua mãe. No momento do lançamento mundial de O Grande Ditador, em janeiro de 1940, nenhum dos líderes de mídia em Hollywood tinha tido a coragem de se pronunciar. Muito mais preocupados com o bem-estar dos seus investimentos e receosos de causar inimizades , instando o bem-estar do seu povo, os homens de negócios judeus optaram não alijar nem ofender a comunidade.(Contrariamente à crença popular, Chaplin não era judeu).
      Em boas mãos, a mordaz sátira política pode ser uma arma poderosa de propaganda. E como o maior comediante de todos os tempos, Chaplin era uma formidável influência. Muitos historiadores cinemtográficos consideram este filme a maior sátira política a um líder jamais feita no mundo, apesar das gritantes falhas artísticas que o tornaram bem menos do que uma obra de arte.O filme foi, financeiramente, bem sucedido.
    Abandonando a técnica tradicional de pantomima- e o seu Vagabundo-  para encenar dois personagens — o ditador e o barbeiro judeu - Chaplin usou sua voz pela segunda num filme. Seu discurso de encerramento, um fundamento artisticamente falho, mas emocionalmente sincero sobre a intervenção internacional contra a Alemanha nazista,ajudou a influenciar a opinião pública americana em favor de guerra - e também o levou a ganhar (nos arquivos do FBI), a designação oficial política de antifascista em potencial. Charles ganhou uma intimação para comparecer perante um Sub-Comitê de Anti-Guerra do Senado, em setembro de 1941. Eles queriam saber por que razão aquele" demagógico palhaço metido" se intrometia na política quando a América ainda estava em paz com a Alemanha.
      Logo depois do lançamento do filme, Paulette deixou um aviso a Charles, explicando que iria a Califórnia para fazer outro filme na Paramount. Charles foi espairecer em Nova york. Quando retornou a Hollywood, soube que ela já havia ido ao México para obter o divórcio, depois de 8 anos de vida em comum. Além de uma pensão considerável, Paulette Goddard ficou com  o Panacea, o iate de Charles.

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