segunda-feira, 16 de abril de 2012

Biografia - Parte II

                                               Dos palcos para a tela



  Em turnê na Filadélfia, Charles recebeu um convite para entrar em contato com um produtor de filmes - Charles Kessel -  um dos proprietários da Keystone Comedy Film Company, em Los Angeles, Califórnia. Mack Sennett, conhecido como O Rei da Comédia, além de ator, diretor, roteirista e produtor, foi o fundador da Keystone. Ao ver Chaplin representando no American City Hall, ficou impressionado com sua atuação e pediu a Kessel que se comunicasse com ele. Charles foi contratado pela Keystone por um ano, recebendo 150 dólares por semana nos três primeiros meses e 175 dólares nos meses seguintes.
   Assim, quando a Companhia Karno retornou à Inglaterra, Charles Chaplin encerrou ali o seu contrato junto a ela e seguiu sozinho para Los Angeles.
Em janeiro de 1914,no dia marcado para se apresentar no novo estúdio, Charles não teve coragem de entrar ali. Sentia-se tímido e por dois dias, esteve próximo do local, observando de longe o entrar e sair dos artistas. No terceiro dia, recebeu um telefonema para que se apresentasse, já que o esperavam.
   Charles ficou extasiado com o que viu na Keystone.Luzes, cenários, câmeras lhe mostravam um mundo que o fascinou de imediato.Ele deveria substituir o ator Ford Sterling que estava deixando a Keystone para se juntar à Universal Studios.
Nos primeiros dias na Keystone, Charles apenas circulava pelos estúdios, sem ter a menor idéia de quando começaria a trabalhar.Quando finalmente chegou o dia, Henry Lehrman, o mais importante diretor da Keystone,o colocou numa película para desempenhar o papel de um repórter. Charles usaria fraque, cartola e bigodes com as pontas viradas para cima.Para mostrar sua comicidade, Charles criou e introduziu nas cenas, falas e pequenos incidentes cômicos, sugerindo aos outros integrantes do elenco que fizessem o mesmo. O filme ficou pronto em cinco dias e, ao vê-lo , Charles se surpreendeu ao perceber que as cenas que havia criado tinham sido cortadas pelo meio. Anos depois, o próprio Lehrman lhe disse que fizera aquilo porque Chaplin estava se mostrando sabido demais!
   Charles odiou este seu primeiro filme na Keystone - Making a Living (no Brasil, Carlitos Repórter).

Chaplin entre Virginia Kirtley e Alice Davenport, em Making a Living

   Ele se ressentia com a equipe de direção e produção por permitir que fossem cortadas cenas com piadas e situações que ele estava acostumado a criar quando estava na Companhia de Karno.

                                                     Nasce o Vagabundo
      Um dia,quando Sennett lhe pediu que criasse uma caracterização cômica, para uma determinada cena, Charles se dirigiu ao guarda-roupa com uma idéia. Vestiria calças largas, sapatos enormes e um casaquinho bem apertado apertado. Para complementar seu traje, colocaria um pequeno chapéu-coco e se apoiaria numa bengalinha.Buscava um contraste entre as calças largas e o casaco justo e entre o pequeno chapéu e os grandes sapatos.


    Buscando parecer mais idoso, como Sennett desejava, adicionou um pequeno bigode.Era uma tarde chuvosa ,em janeiro de 1914. Ele acabara de conceber o traje, maquiagem e primeiros elementos do personagem que se tornaria mundialmente famoso. Não tinha a menor idéia de qual seria a personalidade de sua criação,mas no momento em que vestiu aquelas roupas, percebeu de quem se tratava. E foi assim,com passos rápidos e desajeitados, girando a bengalinha, que Charles Chaplin se apresentou a Mac Sennett. Quando este o viu, explodiu em gargalhadas o que foi o suficiente para Charles criar coragem e lhe falar sobre a personalidade do personagem que acabara de criar: "... é um vagabundo, um cavalheiro, um poeta,um sonhador, um sujeito solitário, sempre ansioso por amores e aventuras. Ele seria capaz de fazê-lo crer que é um cientista,um músico, um duque, um jogador de polo. Contudo, não está acima de certas contingências, como a de apanhar pontas de cigarro no chão ou de furtar o pirulito de uma criança.E ainda, se as circunstâncias o exigirem,será capaz de dar um pontapé no traseiro de uma dama, mas somente no auge da raiva". Nascia Carlitos, o adorável Vagabundo!

  Chaplin havia criado um personagem totalmente diferente de qualquer outro que os americanos conheciam. Quando se vestia de Vagabundo, este se tornava uma pessoa viva. " Na verdade, ele me inspirava toda a espécie de idéias malucas com as quais nunca sonhava senão quando, assim vestido, eu entrava na personalidade do Vagabundo", disse Charles, certa vez.
   Seguro de si, dentro das roupas do Vagabundo, Charles continuou a introduzir cenas de comicidade que não estavam previstas nas cenas. E, como sempre, estas eram cortadas. Mas ele agora já estava familiarizado com o processo de corte fimagem e passou a fazer suas improvisações no momento em que entrava e saía de cena, pois em tais condições, era mais difícil eliminá-las. Charles começou a ser considerado uma pessoa difícil de se trabalhar.
     A primeira aparição pública do Vagabundo aconteceu durante as fimagens externas de Kid´s Auto Race (Corrida de Automóveis para Meninos),um filme de curta metragem improvisado, com cenas feitas no local onde realmente acontecia uma corrida de carros de crianças.

Carlitos, o Vagabundo, em Kid´s  Auto Race

  O Vagabundo passa a maior parte do filme obstruindo a câmera do cinegrafista (interpretado por Frank Williams ) enquanto a audiência - que era real - o viu, pela primeira vez e achou que ele era realmente um verdadeiro incômodo e não um ator.

Charlie in Kid Auto Races c.1914
via LADailyMirror.com
                         Um "intruso" atrapalhando as filmagens em Kid´s Auto Race

  Charles desejava escrever e dirigir suas próprias comédias, mas Sennett rejeitava esta idéia. No cinema, o Vagabundo fez sua estréia no filme Mabel´s Strange Predicament ( no Brasil,Carlitos no Hotel), onde contracenava , entre outros, com Mabel Normand que era também a diretora do filme.

Mabel Normand e Chaplin

   Mabel era bonita e espirituosa,mas não tinha a experiência sofisticada da comédia que Charles havia aprendido com Karno. Durante as filmagens, ele se rebelou com a jovem atriz pelo jeito autoritário com que ela se dirigiu a ele, quando ele sugeriu a introdução de um episódio cômico no filme. Ao saber da discussão, Sennett disse a Chaplin que fizesse o que lhe fora ordenado ou teria seu contrato cancelado. Charles reagiu, respondendo que antes de ir para a Keystone, ele já ganhava seu próprio salário e que não se importava com sua demissão, caso Sennett desejasse despedi-lo. No dia seguinte, Sennett o procurou para convencê-lo a cooperar com a equipe e Charles respondeu que era exatamente aquilo que vinha tentando fazer e que, caso permitissem que ele mesmo dirigisse os filmes, não haveria mais problemas. Quando Sennett he perguntou quem pagaria pelo prejuízo, se não conseguissem distribuir o filme, Charles prometeu ele mesmo fazê-lo, depositando, como garantia, 1500 dólares num banco. O acordo foi fechado.
   O que levou Sennett a procurar Charles para uma reconciliação, foi um telegrama, vindo de Nova York, pedindo a Keystone que enviasse, com urgência, mais filmes de Chaplin, pois a procura por eles tornara-se intensa. Na época, a Keystone produzia, em média, 20 cópias para o mercado dos Estados Unidos. Uma venda de 30 cópias era considerada um êxito e o último filme lançado pela Keystone, naquela época, levou ao mercado 45 cópias.

O Ator se Torna Diretor

 Charles Chaplin só começou a atuar como diretor a partir de seu 13º filme junto a Keystone. Caught in the Rain ( no Brasil, Carlitos e a Sonâmbula) - foi o seu primeiro trabalho de direção.

Ator e diretor

   Não foi um destaque, mas era divertido e teve êxito. A partir dali, Chaplin passou a dirigir e a escrever seus próprios filmes. Assim, durante sua permanência na Keystone, Charles Chaplin atuou em 35 filmes, dirigindo 18 deles.
A Keystone ensinou muito a Charles e muito aprendeu com ele. Na época em que pouco se sabia sobre a técnica e a arte de representar, Charles introduziu em seus filmes toda a experiência que havia adquirido nos palcos de teatro. Mostrou a mímica de modo sutil e delicado.
    Sempre buscando inovar, usando de sua enorme capacidade criativa,introduziu uma outra dimensão em seus filmes. Em The New Janitor ( O Porteiro), onde fazia o papel do empregado demitido pelo patrão, usando de sua mímica para pedir a ele que tivesse pena de sua situação como pai de uma família com vários filhos,Charles arrancou lágrimas da atriz Dorothy Davenport. Isto foi o bastante para que ele confirmasse o que já havia sentido: sua capacidade de provocar lágrimas ao mesmo tempo em que arrancava gargalhadas.

Chaplin em O Porteiro

    Este filme foi um salto na estrutura narrativa e mostrou a primeira comédia com sentimento.
    Os filmes da Keystone foram uma verdadeira escola de cinema para Chaplin: em cada um dos que criou, podemos ver novas técnicas : por vezes o filme mostra cortes rápidos, por outras, cenas mais extensas.
   Em 1914, aos 25 anos de idade, Charles Chaplin estava apaixonado pelo seu trabalho, não apenas pelo sucesso alcançado, como também pelas belas estrelas de cinema que conhecia. Mary Pickford, Blanche Sweet, Miriam Cooper, entre outras, fascinavam o jovem. Charles considerou ser este o período mais excitante de sua carreira.
Charles recomenda Sydney a Sennett que não hesitou em contratá-lo. O sobrenome Chaplin estava na moda e Sennett se sentiu feliz por anexar mais um membro da família aos estúdios da Keystone.
   Ao indagar a Sydney como seus filmes eram recebidos na Inglaterra, Charles foi informado de que, no meio artístico, comentava-se sobre o enorme sucesso daquele comediante norte-americano!
   Quando faltavam 4 meses para terminar o contrato com a Keystone, Charles foi procurado por Sennett que desejava saber se ele o renovaria.Sabendo de sua imensa popularidade, Charles pediu um salário de 1 000 dólares por semana.Sennett recusou a proposta.
   Charles começou a se preocupar, quando, faltando um mês para o fim de seu contrato com a Keystone, não havia recebido proposta de nenhuma Companhia. Assim, decidiu trabalhar por conta própria. Chamou Sydney e disse-lhe que tudo o que precisava era de uma câmera e um terreno baldio, mas o irmão hesitou, não querendo arriscar num projeto e deixar para trás um salário que jamais havia ganho antes. Sydney permaneceu na Keystone por mais um ano.
   Charles recebeu, então, uma oferta da Universal Studios. Ele ganharia 36 centavos por metro de filme,sendo suas comédias financiadas pela empresa. Proposta recusada. Finalmente, um jovem representante da Essaney Film Company procurou Chaplin e lhe fez uma proposta irrecusável: um salário de 1250 dólares por semana, com um bônus de 10 000 dólares no ato de assinatura do contrato.
   Os fundadores da Essanay (cujo nome se formou da junção das iniciais de seus sobrenomes,S and A) foram o homem de negócios George K.Spoor e o ator G.M. Bronco Billy Anderson, de quem Charles gostava muito.
   Charles ainda ficaria por mais duas semanas na Keystone, terminando sua última comédia para a Companhia -His Prehistoric Past ( Seu Passado Pré-Histórico).

Stills: His Prehistoric Past
Um Carlitos pré-histórico

  Tão logo o concluiu, partiu para Chicago, dando início ao seu trabalho junto a nova empresa.

No Novo Estúdio
   No dia seguinte à sua chegada, pediu para escolher,entre os artistas. alguns para formar seu grupo de atuação. Entrevistou vários, entre eles ,uma moça muito bonita que a Companhia acabara de contratar. Durante os testes e ensaios, porém, Charles sentia muita dificuldade em obter qualquer reação da parte da atriz e acabou por despedi-la. Anos mais tarde, soube que aquela moça era Gloria Swanson. Ela própria lhe revelaria que suas aspirações estavam voltadas para o drama e que, por detestar comédias, assumiu a postura de não colaborar com Charles.
   O primeiro filme de Charles na Essanay -His New Job ( Seu Novo Emprego) - é uma sátira visualmente brilhante da classe e das relações dos trabalhadores.

Carlitos buscando um emprego

  Gravado em estúdio, foi feito na empresa de Chicago.Mas Chaplin não se sentia feliz ali. As condições do estúdio não eram satisfatórias e ele  pediu para trabalhar na filial em Niles, na Califórnia, no que foi prontamente atendido.
  No novo estúdio, teve que organizar novamente sua equipe, buscando novo operador, um assistente de câmera e um elenco básico. Com tudo preparado, mas sem uma história pronta, começou a montar o cenário de um luxuoso bar. Por fim, Charles foi buscar uma protagonista para seu filme.Procurava uma jovem fotogênica e talentosa, sem qualquer experiência anterior na arte de atuar e sem um ego para impedi-la de subordinar-se a ele como diretor. E assim, em San Francisco, Charles Chaplin encontraria Edna Purviance, a mulher que teve relevante papel em sua vida profissional e amorosa.

Charles e Edna num intervalo de filmagem


   Ela era uma bonita mulher, com grandes olhos, belos dentes,muito discreta e reservada.Despretensiosa, calma, generosa, de boa índole, a estenógrafa de 19 anos só buscava se recuperar de uma desilução amorosa e, sem esforço, revelou um olhar triste que instantaneamente encantou Charlie. Apesar de tudo, em conversa com ela, achou que não conseguiria tirar dela qualquer humor.Por sua beleza, acabou contratando-a, pois desejava dar um toque decorativo às suas comédias.
    De volta ao estúdio, Charles escolheu o título de seu filme:A Night Out ( Uma Noite Fora de Casa) onde ele interpretou um bêbado em busca de prazeres, tendo Edna no papel de sua esposa. Na noite anterior ao início do filme, Charles foi convidado para um jantar, por um dos membros da Companhia. Entre cerca de 20 pessoas, estava Edna. Em conversa, Charles disse aos presentes que tinha a capacidade de hipnotizar as pessoas.Falou de tal modo que convenceu a todos, menos a Edna.Assim, dirigiu-se a ela e disse que seria um excelente instrumento e apostou 10 dólares como poderia fazê-la dormir por 60 segundos.Pediu que ficasse de pé, com as costas apoaidas na parede, distante dos outros para que sua atenção não fosse desviada.Ela obedeceu, sorrindo. Imediatamente, Charles começou a fazer uns passes dramáticos, olhando intensamente nos olhos dela. Depois, aproximou-se bem de seu rosto e, sem que pudessem ouvi-lo, disse-lhe: "Finja"! E continuou a fazer passes, repetindo:"Vai ficar inconsciente"!"Já está inconsciente"! "Inconsciente"! Edna, então, começou a vacilar. Charles tomou-a nos braços, enquanto alguns dos presentes davam gritos. Quando ela " voltou a si", fingiu espanto e disse que se sentia fatigada. Edna havia escolhido não vencer a disputa. Preferiu não prejudicar o gracejo de Charles e assim conquistou sua estima e convenceu-o de que tinha senso de humor.

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Charles Chaplin e Edna Purviance - Um Capítulo à Parte

    Edna não era uma adolescente imatura nem uma aspirante a atriz profissional. Ela não estava buscando um "criador de estrelas". Durante os oito anos seguintes, provou ser uma dedicada atriz dramática, participando de 34 filmes de Chaplin.A partir de sua associação profissional em 1915, a doce Edna inspirou o Vagabundo a se tornar muito mais emocionalmente sensível e maduro. O sonhador e poético Charles rapidamente se tornou mais amável com seu público.

Antes  de Edna,
Carlitos  desajeitado e irreverente

Depois de Edna, sentimental e amoroso

   Edna Purviance foi o primeiro grande amor de Charles, sua namorada dentro e fora das telas, por cerca de 7 anos.Charles, depois de conhecer Edna, tornou-se um artista mais maduro do que aquele dos tempos da Keystone.
   O sentimento genuíno que esses dois namorados desenvolveram em suas vidas privadas, contribuiu para essa marca distinta de sentimentalismo que eventualmente veio a ser conhecido como chaplinesco. O amor de Chaplin por Edna despertou seu criativo "eu" interior e libertou-o para projetar e repartir este seu lado mais delicado com o seu público.

Em Work, filmado em 1915, amor dentro e fora da tela

   Desde que conhecera Edna, Charles ía buscá-la, quase todas as noites, em seu apartamento, para jantarem.Charles pensava em casar-se com ela, embora tenha declarado, em sua auto biografia,que tivesse algumas reservas com relação ao sentimento que havia entre eles.Não se sentia seguro de seu afeto por ela e não estava certo sobre o que ela sentia por ele."Em 1916, éramos inseparáveis", disse Charles mais tarde. Compareciam a todas as festas e noites de gala e, nesta ocasiões,Edna tinha acessos de ciúmes a cada vez que Charles era alvo de demasiada atenção.Usando sempre do mesmo recurso, Edna desaparecia e Charles recebia depois um recado de que ela havia desmaiado e estava perguntando por ele.Charles, imediatamente, ía a seu encontro e ficava o resto da noite com ela. Contudo, aquela situação passou a se tornar irritante a Charles.
   Numa outra ocasião, após uma de suas "crises", a recobrar os sentidos Edna chamou por Thomas Meighan, um belo galã da Paramount. Ao saber daquilo,no dia seguinte, Charles sentiu-se, obviamente magoado e com o orgulho ferido.Não conseguiu trabalhar naquele dia. Telefonou para Edna e ao lhe pedir explicações, esta negou tudo. "Você não precisa usar de nenhum fingimento para comigo. É livre para fazer o que bem quiser. Não está casada comigo. E, enquanto for correta em seu trabalho, isto me basta", disse-lhe Charles. Edna concordou com ele. Não desejava que nada interferisse no trabalho que realizavam em comum.Disse-lhe, então, que seriam bons amigos. Ao ouvir esta declaração, Charles sentiu-se imensamente infeliz. A conversa ao telefone se estendeu por uma hora. Ele esperava um pedido de desculpas, mas acabou sugerindo que fossem jantar juntos. Ela hesitou, mas quando Charles implorou , acabou cedendo e, naquela noite "jantamos ovos com presunto que ela mesma preparou em seu apartamento".
   No dia seguinte, mais aliviado, Charles voltou ao seu trabalho. De qualquer forma, sentia-se um pouco culpado, perguntando-se se não havia negligenciado Edna algumas vezes.Não sabia se deveria romper definitivamente com ela.Não sabia se a história sobre Thomas Meighan era ou não verdadeira.
  Três semanas depois, Edna foi ao estúdio receber seu pagamento. Ai sair, ela se encontrou com Charles e o apresentou ao homem que estava em sua companhia: Thomas Meighan. Foi um choque para Charles.
   O relacionamento de Edna e Charles terminou em meados da década de 1920. O verdadeiro motivo deste rompimento, não ficou claro a muitos, da mesma forma que não foi colocado nas autobiografia de Charles Ficou evidente que assim que Edna Purviance começou a mostrar os mínimos sinais de envelhecimento — tornando-se um pouco mais gorda e matrona - o interesse romântico do artista , com fome de juventude e fobia de idade, rapidamente murchou. Chaplin voltou suas atenções para as adolescentes intelectual e emocionalmente insípidas, mas cujos corpos magros e braços delgados o fascinavam.(O medo mórbido de Chaplin de ver uma bela jovem que ama de repente se tornar velha diante de seus olhos -como acontecera com sua mãe, aos 38 anos-  contribuiu para seu próprio medo neurótico de envelhecer . Edna Purviance voluntariamente sofreu dois abortos médicos ilícitos (e um ligação de trompas) para se manter sempre trabalhando com Charles.
    Compreensivelmente, ela se sentiu magoada e ferida por ver desfeito seu relacionamento com Charles.Ainda assim,Edna continuou torcendo por Charles e se manteve trabalhando com ele. O romance entre Charles e Edna terminara,mas a amizade entre eles jamais se desfez. Seu último filme com Chaplin foi A Woman of Paris ( Casamento ou Luxo), realizado em1923 e escrito por Charles especialmente para Edna em agradecimento por todos os anos de trabalho que ela lhe havia dedicado.A intenção de Charles naquela ocasião, era também fazer com que Edna se reconstruísse como atriz dramática, já que sua idade já não mais lhe permita atuar em comédias. Em A Woman of Paris, Charles mostrou uma inversão de valores na sociedade da época e revolucionou o cinema.
    Nunca Chaplin (ou qualquer outro diretor) havia recebido críticas tão favoráveis e elogiosas. E hoje é considerado um marco no cinema, que nunca havia experimentado tamanho realismo. Apesar disso, Chaplin experimentou seu primeiro fracasso comercial, já que o público não compareceu para assistir um filme de Chaplin sem seu mais célebre personagem. Seu nome sequer constou nos créditos do filme, onde ele aparece rapidamente,sem seu traje de Vagabundo, no papel de um carregador de malas.
    Ao final de sua carreira, Edna teve seu nome foi envolvido num caso de assassinato que foi noticia em todos os jornais que circulavam dentro e fora dos Estados Unidos.Na véspera do Ano Novo,ela fora convidada por um magnata do petróleo para jantar num hotel. A atriz Mabel Normand se juntou a eles, no dia seguinte.
   O motorista de Mabel, ao se dirigir ao quarto, escutou o som de um tiro. O magnata havia sido assassinado.Este escândalo, determinou o fim da carreira de Edna. Na tentativa de ajudá-la a se reeguer, Chaplin conseguiu que ela fizesse parte num  filme - A Woman of the Sea- de um outro produtor,Josef von Sternberg, mas o filme jamais foi lançado e Sternberg declarou que a Edna era uma alcoólatra desempregada.Suas duas últimas aparições, sem falas, foram nos filmes sonoros Monsieur Verdoux, em 1947 e Luzes da Ribalta, em 1952.No entanto, Chaplin fez questão de manter a folha de pagamento de Edna até sua morte, em 11 de janeiro de 1958, quando, aos 62 anos foi derrotada pelo câncer." Como eu poderia esquecer Edna"? disse Charles numa entrevista após sua morte. "Ela estava comigo quando tudo começou"!

Edna Purviance

     Nas últimas páginas de Minha Autobiografia (1964), ele prestou um tributo extremamente amoroso e generoso a Purviance. Aos 75 anos de idade , Chaplin também declarou, neste mesmo livro, que os anos que trabalhou na Mutual, ao lado de Edna Purviance, foram os mais felizes de toda a sua vida profissional.Se ele era o Poeta, ela foi sua Musa.A história de amor vivida por eles teve um amargo fim (como tantos filmes de Chaplin).
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     Na Essanay Chaplin conseguiu grandes avanços em suas criações. O Vagabundo foi o primeiro filme em que ele misturou comédia e sentimento. O Trabalho é uma sátira visualmente brilhante da classe e das relações laborais. Depis de realizar 4 filmes em Niles, Charles pediu para trabalhar em Los Angeles, onde a Essaney arrrendou um pequeno estúdio. Ali Charles conheceu dois outros jovens atores que haviam alugado um espaço no mesmo local: Hal Roach e Harold Loyd.    
    Seu 9º filme, A Woman ( no Brasil, Senhorita Carlitos), foi o seu primeiro e único trabalho em que interpreta um personagem feminino.

Senhorita Carlitos

   Em seu próximo filme, The Bank ( O Banco), ele desenvolveu as idéias usadas em His New Job (Seu Novo Emprego), combinando sentimento e uma maravilhosa encenação cômica.Charles começava a usar um novo estilo que mesclava realismo e ironia. O seu filme Life, jamais foi concluído, mas dele Charles tirou cenas que utilizou em The Police ( Polícia), seu penúltimo filme realizado junto a Essaney.
   Com o sucesso de Charles, Sydney, que que estava com seu contrato por terminar junto a Keystone, planeja dedicar seu tempo aos negócios do irmão.
   A esta altura, em Nova york, a imagem do Vagabundo começava a surgir em forma de bonecos,estatuetas, livros,revistas, roupas,propaganda de cremes dentais e de cigarros.


   Mas, apesar de todo este sucesso,Chaplin, concentrado em seu trabalho de criar filmes, só percebeu que tinha se tornado uma figura nacional em fevereiro de 1916, quando retornou da Califórnia para Nova York pela primeira vez desde que se entregou ao seu ofício. Nessa viagem, ele foi obrigado a deixar o trem antes da chegada a Grand Central Station, a fim de evitar o assédio da multidão que o aguardava ali.
    Cartas de fãs se acumulavam na mesa de Charles. Sidney, então,teve a idéia de sugerir a Essaney que vendesse as cópias ds filmes de Chaplin separadamente, fora da produção rotineira, evitando assim que o lucro fosse todo para os exibidores.
    Foi após assistir ao filme Carmem de Cecil B. Demille, que Chaplin resolveu criar uma paródia deste, com dois atos, como seu último trabalho para a Essaney.Assim foi que surgiu o Charles Chaplin´s Burlesque on Carmen.

Chaplin contracenando com Edna (no papel de Carmen)

    Seu contrato junto à Companhia estava terminando e ao ser procurado pelo diretor com uma oferta de renegociação de contrato de 250 000 dólares por 12 filmes de dois atos, Charles pediu-lhe um adiantamento de 150 000 dólares. Não foi atendido. Enquanto isso, em Nova York, Sydney estudava várias propostas de contratos para Charles. Quando  seu contrato com a Essanay estava por terminar, todos os grandes distribuidores de Hollywood e estúdios o disputavam.
   A relação de Charles com a Essanay terminou na justiça: depois que terminou seu contrato com a empresa, ele viu que esta havia adicionado novo material a seu filme Charles Chaplin´s Burlesque on Carmen, transformando-o num longa metragem, além de ter inserido cenas não usadas por Charles,para fazer montagens no filme Triple Trouble, o último que Chaplin havia realizado na Companhia.
    Falharam todos os esforços dele para obter reparação legal para estas produções não autorizadas que ele temia, com razão, pudessem prejudicar sua reputação.Daí em diante, Charles passou a incluir em seus contratos, uma cláusula estabelecendo que não haveria cortes ou acréscimos abusivos ou qualquer outra interferência nos trabalhos que ele houvesse concluído.

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